quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Dicas de filme



A Guerra do Vietnã é, até hoje, uma ferida aberta no orgulho dos Estados Unidos. A política intervencionista da terra do tio Sam, em plena Guerra Fria, fez com que o presidente Kennedy mandasse, em 1961, quinze mil “conselheiros militares” ao Vietnã, numa tentativa de atrapalhar a reunificação do conturbado país, prejudicando, assim, os planos do líder Ho Chi Minh de estabelecer uma sociedade comunista em uma nação unificada. Em 1965, o presidente Lyndon Johnson aumentou substancialmente o número de tropas e armamentos na guerra, sob intensos protestos de grande parte da população civil estadunidense. Os mais modernos artefatos bélicos desenvolvidos pelos Estados Unidos até então foram postos em ação no conflito. Entre eles, estavam as terríveis bombas de fragmentação, o explosivo napalm e desfolhantes químicos. As tropas do exército norte-vietnamita eram nutridas por armamentos fornecidos, por trás dos panos, pela União Soviética.
Apesar de todo o esforço empreendido durante os doze anos em que os Estados Unidos estiveram envolvidos no conflito armado, as forças norte-vietnamitas e vietcongues acabaram saindo vitoriosas. Os EUA deixaram à região em 1973, após terem sofrido 46.370 baixas.
A Guerra não poderia passar despercebida pela indústria cinematográfica e, onde muitos filmes entraram em cena.


>>> Apocalypse Now


“Apocalypse Now“, de Francis Ford Coppola, foi baseado no livro Heart of Darkness, de Joseph Conrad. No filme, o capitão Willard (Martin Sheen), do exército dos Estados Unidos, recebe uma curiosa missão: deve embarcar em uma perigosa viagem ao Camboja, com o objetivo de encontrar e eliminar o coronel Walter E. Kurtz (Marlon Brando), oficial que teria enlouquecido e estaria comandando um exército de nativos fanáticos nas selvas do país. A jornada é empreendida em um pequeno barco da marinha, comum nos rios do Vietnã, durante a guerra.
A tripulação do barco é composta por jovens marinheiros, comandados pelo experiente Chefe Phillips. Enquanto sobem o rio, passando por terras infestadas de inimigos, o capitão Willard, estudando dossiês sobre o coronel Kurtz, fica obcecado pelo misterioso homem. Willard, aos poucos, vai se tornando cada vez mais parecido com Kurtz, entendendo sua forma de pensar e agir. Os dois parecem estar estranhamente vinculados e, como é dito no próprio filme, não dá para contar a história de Walter E. Kurtz sem contar a de Benjamin L. Willard. O final de “Apocalypse Now” é extremamente dramático e marcante. O encontro dos dois oficiais, que aprendemos a aguardar desesperadamente durante o filme, sela seus destinos, em um momento para o qual ambos parecem ter nascido.
Muitos dizem que “Apocalypse Now” é um filme de guerra. Para mim, a Guerra é apenas o cenário mais oportuno aos dramas pessoais que o filme tenta revelar. A estranha ligação entre Willard e Kurtz é, ao meu ver, o principal tema de “Apocalypse Now”, que foge totalmente aos clichês, não sendo apenas mais um filme de crítica explícita à Guerra do Vietnã.



>>> Platoon

O diretor Oliver Stone, em 1986, aventurou-se numa bem sucedida versão da Guerra do Vietnã, em “Platoon“. Stone, que lutou no Vietnã, sendo ferido em combate, pôs sua experiência pessoal no filme, tornando-o quase autobiográfico. “Platoon” conta a estória de Chris Taylor (Charlie Sheen), um jovem que se recruta voluntariamente no exército dos EUA, com o objetivo de lutar no Vietnã. Chegando lá, Taylor vê que a guerra não era como ele pensava. A maioria dos soldados que servem em seu pelotão são garotos oriundos da classe social mais baixa dos Estados Unidos, obrigados pelo governo a se arriscarem na guerra.

Dois oficiais do pelotão, interpretados brilhantemente por Tom Berenger e Willem Dafoe, não conseguem separar a guerra que travam com o inimigo daquela que travam um com o outro. Isso faz com que os homens se dividam, quebrando o companheirismo e tornando ainda mais difícil o longo período que os soldados têm que passar naquele inferno.
Numa cena forte, os soldados americanos invadem uma aldeia de camponeses e, literalmente, fazem um massacre, matando homens e mulheres, incendiando cabanas. Na mesma cena, é mostrado o ódio que começa a nascer em Chris. Um ódio que não é nutrido pelos vietnamitas e sim pela própria situação de limite em que o soldado está vivendo. Chris quase perde o controle quando é desafiado por um camponês perneta, que é morto a coronhadas, momentos depois, por outro soldado do pelotão.
“Platoon” mostra, com detalhes, o extremo cansaço físico e mental a que eram submetidos os soldados, durante a guerra. O filme revela, aos poucos, a revolta que cresce no íntimo dos homens, levando-os a praticarem atos desumanos e inesperados.



>>> Nascido Para Matar

Em sua respeitável, incursão ao universo dos filmes de guerra, Stanley Kubrick foi autor de uma das mais notáveis e chocantes obras do gênero: “Nascido Para Matar” (Full Metal Jacket, 1987). A primeira parte do filme tem como cenário um campo de treinamento norte-americano, onde jovens comuns são forçados a tornarem-se assassinos frios, antes de serem enviados ao Vietnã. As lentes de Kubrick mostram com ironia a vida dos recrutas, sob o comando do mais que severo sargento Hartman.
O primeiro estágio chega ao clímax numa extraordinária cena no banheiro do campo de treinamento, considerada, por mim, uma das mais marcantes da história do cinema. Na segunda parte, somos transportados ao Vietnã e assistimos ao conflito através do recruta Joker, correspondente de um jornal de guerra destinado aos combatentes americanos.

Kubrick nos mostra agora a trajetória de jovens envolvidos em uma guerra que não é deles, assassinos movidos por uma falsa esperança de tornarem-se, um dia, heróis. Mostra a convivência dos soldados e suas relações com os vietnamitas. Revela suas inseguranças e seus medos, escondidos sob a máscara de homicidas de sangue frio. No clímax desta segunda etapa do filme, é mostrado o outro lado da guerra: os jovens soldados, unidos, enfrentando um inimigo único. O filme revela a guerra aos olhos de um dos maiores diretores do século passado. O tema é tratado com uma crueza perturbadora, humor sarcástico e uma visão crítica única.
“Nascido Para Matar” destaca-se das outras produções do diretor como um legado de Kubrick aos dias de hoje, a uma sociedade movida pela indústria bélica, a mais imoral de todas as empresas. Um legado a uma sociedade de assassinos profissionais que são, como nos revela Kubrick, as maiores vítimas da guerra.



>>> De volta para o inferno


Cal Rhodes (Gene Hackman) é um coronel aposentado do exército norte-americano que tem tentado durante dez anos conseguir do governo alguma informação relativa ao desaparecimento de Frank (Todd Allen), seu filho, que em 1972 tinha sido considerado desaparecido na Guerra do Vietnã. Frank foi visto pela última em um campo de prisioneiros de guerra no Laos, mas apesar desta informação o governo nada faz, pois considera Frank desaparecido em combate. Assim Cal usa toda sua experiência militar para formar um grupo de resgate formado por veteranos e um novato, Scott (Patrick Swayze), cujo pai também foi para o Vietnã e não voltou, e treiná-lo. Cal tem total apoio financeiro de MacGregor (Robert Stack), um multimilionário cujo filho também é um prisioneiro de guerra. Mas esta missão envolve riscos e provavelmente nem todos vão sobreviver.